Nota Sobre o Propósito da Vida

A vida tem um propósito? Há somente duas respostas para tal pergunta: sim e não. Não há um meio-termo. Ou admitimos um propósito e com isso reconhecemos a existência de um ser transcendente, ou o negamos e reconhecemos a absurdidade decorrente dessa posição.

Há quem admita que haja um propósito na vida, mas que isso não significa que haja necessariamente um ser transcendente como sua origem. Porém, o propósito é atributo de um ser vivo e autoconsciente, que não pode existir nas coisas, tampouco pode pairar no ar. Portanto, admitir a objetividade de sua existência e negar simultaneamente sua natureza transcendente resulta em flagrante autocontradição.

Apesar disto, há quem diga que o propósito é criação da mente humana. Em outras palavras, a vida não teria objetivamente um propósito em si, mas apenas subjetivamente. Contudo, a existência da vida humana precede qualquer projeto que ela venha a criar para si, de maneira que a questão da existência ou não de um propósito se refere justamente a esta vida, sem nenhum plano pessoal autoconstruído.

Assim, como poderia uma existência sem propósito conter a possibilidade de sua criação? Ora, é a própria possibilidade de criação que prova a existência objetiva do propósito, pois não é a vida sem sentido que precede o sentido que atribuímos a ela, mas o sentido é que precede a existência de uma vida, que nega o seu próprio sentido.