Nota Sobre a Origem do Ser Imortal

A morte é um fato. No entanto, a existência de um fato não é prova da continuidade de sua ocorrência. Já a continuidade da vida após a morte é uma hipótese. Assim, o conhecimento do mortal não é prova da inexistência do imortal. Só pode haver morte se houver seres viventes, de maneira que a morte não é a destruição da vida, mas a destruição dos seres viventes. Logo, questiona-se: Poderia existir, não apenas nominalmente, mas materialmente, o ser imortal?

Para sustentarmos a tese de que o ser imortal existe realisticamente, é fundamental demonstrarmos que a vida não se origina nos seres mortais. A existência da vida transcende os seres que ela vivifica. Sua origem está pautada em um ser imortal.

Suponhamos que a vida seja um elemento inerente ao ser mortal. De acordo com essa tese, se, em um dado momento do passado, não havia seres mortais, logo, não havia vida. Porém, como os seres mortais poderiam existir sem que houvesse vida, já que a vida seria um elemento intrínseco a eles? A única prova em favor de tal tese seria a de que o primeiro ser mortal passou a existir, independentemente da existência de outro ser mortal que o precedesse.

O problema é que não existe nenhuma evidência que sustente essa tese. Ao contrário, a prova de que a vida é um elemento extrínseco aos seres mortais repousa no fato de que a existência de todo ser mortal depende necessariamente da existência de um ser vivo não necessariamente mortal, que o preceda. Em outras palavras, um ser mortal só pode existir se houver outro ser vivo que o preceda, pois o contrário é impossível.

Então, partindo-se da premissa de que o primeiro ser mortal foi necessariamente precedido de um ser vivo, uma vez que todo ser mortal é necessariamente precedido de um ser vivo, conclui-se que o ser vivo que precedeu o primeiro ser mortal, na impossibilidade de também ser mortal, só poderia se tratar de um ser imortal.

Nesse ponto, uma objeção pode ser levantada: Quem precedeu o ser imortal? O problema desta questão é que ela parte do pressuposto de que o ser imortal teria se originado. Mas, por ser ele imortal (eterno), significa que ele sempre existiu.