O Falso Problema da Falta de Médicos no SUS

Costumam dizer que o sistema de saúde público é de péssima qualidade, que faltam médicos, e que, portanto mais profissionais deveriam ser contratados. Não diria que o sistema de saúde público é de péssima qualidade, tampouco que faltam médicos, menos ainda que novos devessem ser contratados.

A primeira coisa a reconhecermos é que o sistema de saúde público não é de péssima qualidade por causa disto ou daquilo conforme uma multidão costuma alegar, mas independentemente disto ou daquilo. Sua precariedade não é devida a uma anormalidade corrigível por estas ou aquelas ações, mas incorrigível independentemente destas ou daquelas ações.

A segunda coisa a reconhecermos é que o suposto problema da falta de médicos é na verdade o problema do excesso de demanda por serviços de saúde. E o excesso da demanda é resultado em grande parte não da falta de serviços de saúde, mas de seu excesso. Não pela falta de médicos, mas pela abundância de médicos e clínicas que desencorajam o público a cuidar de sua própria saúde, buscando atendimento ante a primeira suspeita de doença. Em suma, o excesso da demanda é reflexo de algo chamado iatrogenia médica. Este é o mais grave problema, porém o que menos interessa à classe médica, menos ainda à indústria farmacêutica.

A terceira coisa a reconhecermos é que cometemos um grande engano ao exigir a contratação de mais médicos. Porque uma coisa é contratar mais médicos, outra é contratar médicos de qualidade. E é fácil formar um médico, basta facilitar a entrada de qualquer estudante num curso de medicina. Porém um bom médico se forma com tempo e dedicação, virtude ausente do perfil da maior parte dos candidatos à carreira médica.

Assim, a quem beneficia a facilitação da entrada de incapazes no curso de medicina, cuja responsabilidade no futuro, caso venha a formar-se, recairá sobre a vida daqueles a quem prestará atendimento? Uma coisa é certa, quanto mais exigimos intervenção estatal na área da saúde, mais poder se concentra nas mãos de pessoas que pouco se importam com nossa saúde. Se quiser melhorar o sistema de saúde, faça sua parte. Cuide da sua, e dependa o mínimo possível de um médico.