Há algo que sempre tenha existido ou tudo que existe passou a existir? Se tudo que existe passou a existir, então sempre existiu algo que veio à existência? Negar a necessidade de existência de um ser necessário é como tentar impugnar que exista um ser que sempre existiu ao dizer que sempre existiram seres que vieram à existência.
O que sempre existiu não pode estar contido no tempo, caso contrário esse ser não seria eterno, mas temporal, de maneira que o próprio tempo não pode sempre ter existido, mas passado a existir. O que precede à existência do tempo não pode ser o nada, pois o nada por se tratar de uma condição de inexistência de tudo, necessariamente não poderia existir, já que a simples existência do nada já não seria o nada, mas sim algo.
Em outras palavras, assim como não existe matéria imaterial, também inexiste tempo atemporal. Um tempo que sempre existiu seria um tempo eterno. Porém, o eterno não é algo que está contido no tempo. Ao contrário, a eternidade é que contém o tempo. Não obstante, o conjunto total de eventos que antecederam o presente não pode ser idêntico caso o presente a ser considerado não seja o hoje, mas o amanhã, pois, com o acréscimo do dia que virá a ser, o mesmo tornar-se-ia maior.
Dado essas considerações, não é possível regredir indefinidamente no tempo, como se não houvesse um princípio. Este começo, portanto, não pode ser precedido de um momento do tempo, pois, caso contrário, não seria o seu início, mas a extensão de algo que já existia. E, como é certo que nada surge do nada, entende-se que aquilo que precede o tempo e o fundamenta não pode estar contido no tempo, mas fora dele, ou seja, deve ser eterno.
Assim, questiona-se: é possível a existência de um ser, cuja inexistência seria impossível? Se for possível, então ele existe não apenas na imaginação humana, mas no mundo real. A razão disso é que ele não poderia existir somente em um mundo hipotético, pois todo ser que existe apenas hipoteticamente é produto da mente do homem e, como tal, é um ser cuja inexistência é possível.
Não faria sentido afirmar que só existe na imaginação humana um ser, cuja existência independe absolutamente de nós, pois se, de fato, só existe em nossas mentes, então ele seria um ser absolutamente dependente de nós, e não um ser, cuja inexistência é uma impossibilidade.
Em suma, dizer que um ser necessário só existe na mente humana é o mesmo que afirmar que só existe em nossa mente um ser que existe absolutamente fora dela.
O cético cai em tremenda contradição ao admitir a possibilidade de existência de tal ser no mundo real e, em seguida, negá-la. Ou ele a admite ou a nega. Porém, caso venha a negá-la, o cético deverá apresentar as razões pelas quais negou sua existência. E isso é algo que ninguém até hoje foi capaz de fazer.